Na
margem esquerda do rio Cuanza, Muxima situa-se na província do Bengo, a cerca
de 138 Km a sul de Luanda.
Sede
do concelho de Quiçama, comarca,
arquidiocese e distrito de Luanda.
Compreendia, durante o período em que era
uma província ultramarina portuguesa, os postos de Demba, Chio, Cabo Ledo,
Mumbendo e Quixinge, sem contar com a sede. Situa-se a cerca de 40 metros de
altitude, na margem esquerda do rio Cuanza.
Muxima começou como presídio, com o
fim de dominar os aguerridos povos da Quiçama. Cercada durante o domínio
holandês, conseguiu resistir-lhe e, posteriormente, a sua Fortaleza e a Igreja
de Nossa Senhora da Conceição passaram a ser consideradas monumentos nacionais.
Esclarecendo
concelho é uma “divisão territorial, administrada por um município”, enquanto
que Município é uma autarquia local, constituída por diferentes órgãos.
A
capela da Nossa Senhora da Muxima é dos lugares de Angola em que fica bem
evidenciado o lado espiritual dos africanos.
Conta
a lenda popular que ela surgiu repentinamente, por obra de um milagre da Santa
Maria, que terá tido duas aparições no local na primeira metade do século XVII.
Desde então o local tem sido um dos pontos preferenciais de muitos crentes, a
maioria dos quais católicos.
Relata
o padre local, o mexicano Mário Torrez, que o povo acredita não só no poder
contido na capela, mas em toda a área circundante.
Muxima
(coração em Kimbundu) é uma zona de forte tradição de magia e bruxaria, pelo
que o "surgimento milagroso da capela" terá sido uma demonstração de
poder de Maria sobre as outras poderosas da área.
Pouco claras são igualmente
as versões convencionais sobre as autoridades que edificaram a capela e o forte
naquela localidade do município da Kissama.
Determinados estudiosos atribuem a
edificação da capela e do forte aos holandeses - na época em que ocuparam
Angola - enquanto a grande maioria destes acredita ter sido obra dos
portugueses.
A
segunda tese é sustentada pelo fato da Holanda não ter tradição católica, e por
que os holandeses dominaram por pouco tempo (cerca de 5 anos) os territórios de
Angola.
Acresce-se
ainda a particularidade do forte, localizado no morro, situado ao lado da
capela, em que se diz ter aparecido Maria, apresentar um estilo típico português.
É igualmente curioso o fato da potência dominadora (tenha sido Portugal ou a
Holanda) ter resolvido edificar um templo num local de tão difícil acesso, e a vários
quilômetros da costa, numa altura em que a ocupação da colônia restringia-se à
orla marítima. Esse fato alimenta a suspeita de que o local já era considerado
sagrado pelos autóctones antes da edificação do templo.
Assim,
os colonizadores terão edificado o templo católico sobre o local sagrado dos
povos locais, como forma de mostrar o seu poder e submetê-los psicologicamente.
Com efeito, a dominação dos deuses de um povo tem sido uma técnica de submissão
dos povos usada por várias potências imperialistas ao longo da história da
humanidade.
No meio de toda essa amálgama de lendas,
milagres, mistérios e contradições, desde 1645 - e quiçá muito antes - que Muxima
tem chamado a si corações de milhares de pessoas que junto dela falam das suas
preocupações, angústias e desejos. Muita gente vai à "Mamã Muxima" na
esperança de que esta resolva os seus problemas de saúde que a ciência não
tenha conseguido resolver, outros vão pedir que ela lhes traga dinheiro e os
livre da pobreza em que vivem. Não raramente pessoas há que vão à Muxima para
entregar-lhe a vida de alguém.
O
Forte da Muxima e a capela, estão hoje considerados Patrimônio Mundial da
UNESCO, a pedido do Governo angolano. No inicio do mês de Setembro faz-se a
peregrinação.
Mais
de 500.000 fiéis marcaram presença na peregrinação à Mamã Muxima, nos dias 4 e
5 de Agosto. Foi uma festa religiosa bonita, presidida pelo bispo da diocese de
Cabinda, D. Filomeno Vieira Dias, que começou com a missa de abertura da
peregrinação, procissão da Virgem e a vigília pela paz e reconciliação das
famílias.
As
ofertas após a homilia simbolizaram os agradecimentos em nome de todas as
paróquias e dioceses do país pelas graças da Mamã Muxima. O momento solene da
peregrinação foi a bênção dada a todos fiéis que levaram consigo carros, fotos,
cartas de condução, roupa, objetos de uso pessoal para receber a graça. Dias
cinzentos, ensolarados e de chuva marcaram o ambiente que ainda assim se
manteve festivo e colorido pelos panos das mais diversas congregações que
estiveram presentes.
Muxima
foi fiel à sua história e acolheu os seus filhos com muito amor.
Fonte: AVE LUZ