NOSSA SENHORA DE MONTE SERRAT |
08-09
O culto a Nossa Senhora do Monte Serrat surgiu na
Espanha, durante a Reconquista, época de lutas entre os cristãos contra os
mouros que tinham invadido a Península Ibérica (Portugal e Espanha). Para
escapar aos saques, igrejas e capelas foram desativadas, sendo muitas das suas
imagens escondidas.
Segundo a tradição, teria sido um pastor que encontrou,
na Catalunha, numa área deserta, uma imagem da Virgem Maria com o menino,
dentro de uma caverna. A região tem um relevo muito especial, estranho, de
rochas agudas que lembram, no horizonte, os dentes de uma gigantesca serra de
cortar. Daí o nome de Monte Serrate. O pico mais alto mede 1.235 metros e
chama-se São Jerônimo. Curiosa coincidência com a história do Monte Serrate de
Santos, cujo primeiro nome era morro de São Jerônimo. Da Catalunha (Espanha) a devoção
a Nossa Senhora do Monte Serrat espalhou-se pela França, Itália, Portugal,
Países Baixos, Alemanha, Áustria, Tchecoslováquia e outros.
Exerceu marcante influência nas lendas da cavalaria
medieval, como na História de Carlos Magno e os Doze Pares da França.
Trazido pelos espanhóis, veio o culto para a América
Central, ainda na época de Colombo, e depois para o México, Peru, Equador,
entre outros. De Portugal chegou à Bahia, no tempo de Tomé de Sousa (antes de
1580). O grande impulso a essa devoção foi dado por D. Francisco de Sousa,
governador geral, viajando pela Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro, São Paulo,
Santos e Sorocaba. D. Francisco chegou a Santos em 1599, em pleno período
espanhol, e governou o Brasil até 1605. Voltou novamente ao Brasil em 1608,
para governar a Repartição do Sul e morreu pobre, em 1611.
Um requerimento de frei Bernardo de Braga, provincial da
Ordem de São Bento, informa que D. Francisco de Sousa foi o que fez a ermida e pôs a imagem de Nossa
Senhora do Monte Serrat na Vila de Santos.
Três pessoas podem ter projetado e construído a Capela
do Monte Serrat: Irmão Francisco Dias, jesuíta, português e arquiteto; o
florentino Baccio de Filicaia, o alemão Geraldo Betting, engenheiros, todos
amigos de d. Francisco. As fontes não esclarecem o ano da construção, sendo
aceito o período de 1599 e 1605 ou entre 1609 e 1611.
A capela foi construída segundo um modelo funcional e
simples A construção sofreu muitas alterações e ampliações nos seus quase
quatro séculos de existência. Hoje, a igreja é de responsabilidade da Mitra
Diocesana de Santos, assim como o Mosteiro de São Bento, que antigamente
estavam, os dois, aos cuidados da Ordem de São Bento (tradicional guardiã dos
Santuários do Monte Serrat).
A subida do monte é feita pelo caminho Monsenhor
Moreira, onde há 14 quadros em bronze da Via-Sacra, inaugurados entre 1939 e
1941.
Segundo a tradição, a imagem achada no Monte Serrate
teria vindo de Jerusalém para a Espanha e por isso ela é também chamada de
"Jerusalamita".
Uma reportagem do antigo O Diário encontrou e fotografou
uma imagem que foi apontada como a primeira imagem do Monte Serrat. A
fotografia mostra a madona numa cadeira barroca, tendo na base dois anjos
serrando um monte, segundo alguns, acrescentado. Do espaldar da cadeira, em
forma de coração, surge um sol com raios enormes. Não se sabe onde se encontra
essa imagem. Teria sido esta a primeira imagem doada por D. Francisco.
A segunda, é a atual, atribuída ao escultor beneditino
frei Agostinho de Jesus, por D. Clemente M. da Silva Nigra. É de barro cozido,
com 40 cm de altura, feita entre 1652 e 1655. Ela pertence ao importante grupo
de imagens de barro, realizadas pela escola beneditina de escultura do século
XVII. Maria está sentada numa cadeira de braços com o menino em pé sobre os
joelhos.
São muitos os significados religiosos da devoção. A
começar pela construção da capela no alto de um morro de 150 metros, para onde
foi difícil levar o material.
Na mitologia, a
montanha é símbolo primordial, pois representa segurança e uma maior
proximidade com Deus. Ir à montanha significa uma forma de ascensão religiosa.
O monte é a lembrança da terra, a grande mãe que nutre o homem, da qual ele
depende para a sua sobrevivência. Tornou-se costume católico a consagração dos
montes a Deus ou aos Santos.
Incontáveis são os milagres atribuídos a Nossa Senhora
do Monte Serrat desde o século XVII, tempos de invasões corsárias, como a do
holandês Spilbergen, em 1615, registrado pela tradição do desmoronamento sobre
os invasores. Frei Santa Maria escreveu: "Com esta santíssima imagem têm
muito grande devoção os moradores daquela vila, e assim eles, como os
religiosos monges, a servem e festejam com muita grandeza e devoção (...) é
muito grande o concurso da gente de toda aquela vila que vai louvar e visitar
aquela milagrosa senhora, porque, além de ter casa de muita romagem em todo o
ano, neste seu dia é muito maior o concurso. Nele lhe vão a oferecer as suas
ofertas e a pagar os seus votos".
Essa descrição, anterior a 1723, serve muito bem para a
festa do dia 8 de setembro. No século XIX, a festa do Monte Serrat reunia
multidão que rezava e se divertia barulhentamente. Havia reclamações sobre
aspectos da festa, considerados demasiado lúdicos. Nessa época, só a festa no Monte
Serrat durava três dias.
A devoção tornou-se tão forte que, em 1955, Nossa
Senhora do Monte Serrat foi proclamada, oficialmente, padroeira de Santos,
assim como inspirou versos aos poetas, como Thales de Melo e Martins Fontes, e
na prosa, páginas como a de Lydia Federici.
Na música, destaca-se o hino composto por Rodoreda, em
1923, e o da coroação, de Jesus de Azevedo Marques, com letra do padre Edmundo
Cortez.
Mas é a subida da colina, que começa junto à famosa
Fonte do Itororó, a presença maciça do povo levando a imagem, as rodas de samba
na festa do morro que provam que a devoção a Nossa Senhora do Monte Serrat,
além de herança histórica, é uma das mais importantes tradições do povo
santista.
HINO DE NOSSA SENHORA DO MONTE SERRAT
Texto do monsenhor Primo Vieira e música do padre
Ximenes Coutinho
I
Nossa Senhora do Monte,
Que estais no Monte a rezar,
Pedi pelos vossos filhos,
Que não vos cessam de amar!
Refrão:
Aos vossos pés suplicando
Erguendo a humilde voz:
Nossa Senhora do Monte
Rogai a Jesus por nós!
II
A vossa ermida tão clara
Como uma hóstia de luz,
Fala de vossa presença,
Celeste Mãe de Jesus!
Refrão
III
Nas horas mansas e boas,
Nas horas tristes e más
Dai-nos o vosso sorriso
E as vossas bênçãos de paz
Refrão
IV
Sois a nossa padroeira.
Sentimos rezando a vós,
O céu mais perto da terra
Porque estais perto de nós
Refrão
V
Nossa Senhora do Monte,
Que estais no Monte a rezar
Descei até vossos filhos
Vinde conosco ficar
Refrão
VI
Ficai conosco Senhora,
Rezai, conosco também,
Agora e na nossa morte,
Pelos séculos, amém
ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DE MONTE SERRAT
Ó Clementíssima Virgem Maria, minha soberana e mãe, Augusta
Senhora do Monte Serrat, Venho lançar-me no seio de vossa misericórdia, e desde
agora e para sempre, pôr a minha alma e o meu corpo debaixo de vossa salvaguarda
e de vossa bendita proteção.
Confio e entrego nas vossas mãos todas as minhas esperanças
e consolações, todas as minhas penas e misérias, bem como o curso e o fim de
minha vida, para que, por Vossa intercessão e por vossos merecimentos, todas as
minhas ações se dirijam e se disponham segundo a vontade de vosso Divino Filho,
Nosso Senhor Jesus Cristo, e que minha alma depois desta vida, possa alcançar a
salvação eterna.
Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós, que
recorremos a vós.
Nossa Senhora do Monte Serrat, rogai por nós.
Que Assim Seja.
Orar é buscar paz aa nossa alma, muita luz.
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