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domingo, 7 de fevereiro de 2010

FILHOS



Senhor,

Sei que é alvorecer; é que tudo se tornou tão frio, escuro. Vejo que o jardim deixou de florir. Havia uma rosa ontem, murchou e as pétalas caíram; no canto do muro uma trepadeira estendia seus ramos verdes com pequeninas flores róseas; agora só ramos secos estão lá. Parecem terem desaparecido as borboletas que brincavam festivas por aqui!... O sol me soa tão despido no céu azul!...
Separamo-nos no portão. Ele começou a andar em direção contrária a nossa casa e eu fiquei ali, sozinha. Seus olhos estavam cheios de um brilho que me pareceu o retrato de um bichinho solto após tempos de exílio. Vi neles meninos correndo e saltando de cima das ribanceiras para as águas novas do rio. Eram uns olhos tão grandes e bonitos! E, pareceu-me que estavam sorrindo e chorando para mim...
Bem longe há cantos de andorinhas, pousando nas faveiras carregadinhas de folhas verdes. Se eu adentrar pela roça, encontrarei melancias maduras, abóboras de leite com o talo seco no ponto de serem colhidas. Na quitandinha de seu João certamente há amigos numa prosa boa contado de causos de pescador ou falando da colheita dos plantios. Meu fogão à lenha reclama as panelas, todavia parece-me ter fugido a alegria costumeira de cozinhar.
Mas o menino tinha de ir! Passou no vestibular e foi estudar na cidade grande. No entanto um vento frio palpita-me aqui no peito, e estou em prantos de lágrimas por dentro de tamanha saudade dele, meu Senhor! Os meninos crescem, sei; e cortam o cordão umbilical. E que faço com esta vontade de querer lhe afagar os cabelos, de olhar em seu rosto e ver aquele amor por mim que lhe coloriam as faces?
Tudo era tão conhecido, tão de dentro de minha porta. Agora vivo nesta ansiedade esperando o telefone tocar. E meus olhos estão marejados; minha voz está embargada de saudade. Ele vai notar; hoje é domingo, dia de ele me ligar.
Oh, Senhor meu! Acalma o coração de uma pobre mãe! Dá-me forças... Sei que meu filhinho fez o certo... É que o vejo pequenino andando atrás de mim; pedindo colo e me chamando quando caía.
_ Triiimmm, triiimmm, trimmm...
_Alô! Meu filho... !

2 comentários:

  1. Sim Flor é uma oração que muitas mães fazem, eu já a fiz há dez anos atrás, e hoje sei que foi o melhor para ele, pois ele soube aproveitar toda a oportunidade que a vida lhe estava dando, daqui a três ou quatro anos será a vez da raspinha se ir, e sei que o Pai me dará as forças necessárias e a protegerá, beijos Luconi

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  2. Maravilhosa essa oração da Flor e qual mãe não passou por isso ou está por passar?Linda!beijos às duas,chica

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